Articulista detalha viagem que realizou ao interior do Amazonas (29/09/2005)


Júnior De Carli

Há uns dez dias, parti em vigem para Manicoré, Maués e Parintins. No aeroclube de Manaus contratei o impagável comandante Celso. Acertados os detalhes, decolamos no pequeno avião para o primeiro trecho, que duraria pouco mais de uma hora.
Hélices a toda. Em alguns segundos já sobrevoávamos o Encontro das Águas. Mais um pouco e surgiram rios serpenteando a mata. Fixei os olhos janela afora. O barulho parecia se distanciar na medida inversa em que surgiam pensamentos.

Sobrevoar o Amazonas é indescritível. Florestas, rios, lagos... Místico, lindo, gigante. Suas riquezas são tantas, e tão valiosas, que causam inveja e admiração. Nióbio, tantalita, calcário, petróleo, ouro e água... muita água. Tem ainda potencial agrícola, várzeas, madeira, peixes, frutos exóticos, plantas medicinais, tudo em meio à maior biodiversidade que se tem notícia.

Este imenso território, que acomodaria a vários países europeus, é de fato extraordinário. Quais e quantas formas de vida estariam abaixo das copas das árvores? Muitas, milhares, milhões.

Primeira Escala (18/09/05)

Uma curva acentuada à esquerda me tira do transe. Estamos chegando. Duas cenas impressionam: a fumaça das queimadas e os bancos de areia no rio Madeira. E surge Manicoré, com suas ruas retas.

No aeroporto me aguardavam Zequinha e Pepê. A programação estava feita. Primeiro o hotel, depois um passeio pela cidade e a seguir almoço com vereadores. À noite, lançamento do livro e visita à Expomani. Era o último dia da festa da melancia.

Zequinha e Rozimary, sua simpaticíssima esposa, são mais conhecidos que nota de R$ 1,00. Já no restaurante, chegam 6 dos 9 vereadores. Lúcio Flávio, Zélio, Zé Rui, Ruberval Neves, Sabá Medeiros e Zildo Galdino. São amigos, articulados e ideologicamente unidos.

A prosa é boa. O assunto, como não poderia deixar de ser, foi política. E, ao menos naquela bela e pequenina cidade, restou claro que Lula, Eduardo Braga e o atual prefeito, Emerson França, não têm lá muito futuro eleitoral. São tidos como o Trio Pinóquio.
No lançamento do livro, fui inquirido com competência intelectual. Fiquei feliz. A mais ‘cabulosa’ das perguntas tinha relação com a crueldade do capitalismo... e tem sentido.

Povo sofrido, mas feliz; dependente do poder público e de seus demagógicos programas de ‘desenvolvimento sustentável’ para o interior, em especial o natimorto Zona Franca Verde. Com Manicoré e seu povo, compartilho o sentimento da necessária mudança. E garanto: cedo ou tarde ela virá.

Segunda Escala (19/09/05)

Fizemos escala técnica em Manaus, com abastecimento e troca de comandante. Sai Celso, entra Eron. Apesar de seus 28 anos, o trânsito nas pistas de garimpos deu a ele experiência e maturidade – Eron, com o manche na mão, é ‘O Cara’.

A aproximação aérea a Maués é de tirar o fôlego. O que é aquilo? Que praias são aquelas? Indescritível!

Após o pouso, fui à Rádio Independência. O radialista Franko Costa já estava no ar, apresentando o noticiário do almoço. Pergunta vai, pergunta vem, e logo me identifico com aquela figura simpática. A seguir visito a cidade. A terra do guaraná é referência de beleza e boa administração.

À noite o auditório da Escola Estadual Santina Filizzola se enche. Dentre as várias perguntas, a que mais me chamou atenção veio de um missionário italiano que tentava estabelecer relação entre clima e desenvolvimento social. Pensei uns instantes no assunto.

De fato lugares frios parecem ser mais desenvolvidos que os quentes. Embora Singapura e Austrália sejam exceções à regra, parece haver algum sentido na tese, mas creio ser tal inferência nada além de um sofisma.

Pela manhã fui à rádio A Crítica, onde mais uma vez pude expor minhas idéias, beijei parentes que ali moram (tia Miriam, tio Carlos Antônio, Aninha e Fernando) e segui rapidamente para o aeroporto. Antes, ‘raptei’ a pessoa que organizou minha agenda na cidade, um rapaz de nome Robert, indicado por meu primo Carlito.
Decolei com a promessa de voltar em breve... e assim será.

Terceira Escala (20/09/05)

Pousamos em Parintins. No aeroporto estava a franzina Elizabete, chamada por ‘pequena notável’. Hiléia, que já havia me ajudado no lançamento de Itacoatiara, foi também a meu encontro. Ambas formaram uma dupla perfeita. Dedicadas, competentes, incansáveis.
Tudo correu de forma impecável. Após entrevista para a Rádio Alvorada, fui visitar a estrutura que abriga o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil). Menina dos olhos da indescritível Elizabete. Belo exemplo, digno de ser copiado.

À noite estavam no auditório da cidade estudantes, professores e formadores de opinião. Sentado à mesa comigo ficou o prefeito Bi Garcia. Jovem, inteligente, carismático. As perguntas foram duras, típicas de uma sociedade politizada.

A cidade dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso é deliciosamente acolhedora e receptiva a novas mensagens e à cultura. Por tudo, tem meu respeito e minha gratidão.

Resumo da Ópera

No exterior, pessoas comuns nos imaginam como uma grande tribo, com anacondas por todas as partes, índios canibais, gente nua andando pra lá e pra cá. Na mente dos branquelos do primeiro mundo (eu posso dizer, sou também branquelo), o imaginário navega por cenas híbridas, definitivamente inexistentes. Algo como um misto de África com filmes do Vietnã do Norte. Hilário!

Somos diferentes, isso é fato. Mas positivamente diferentes. Nosso povo é geneticamente inteligente e tem ricas tradições. Outro fator é que nenhum outro Estado ou nação tem tanto potencial natural. Somos um gigantesco diamante bruto, em ponto de lapidação. Mesmo assim vivemos tal e qual um mendigo sentado num bilhete de loteria premiado.

Esta coluna é publicada às quintas-feiras e é elaborada sob a coordenação do administrador de empresas com MBA pela FGV, Júnior De’ Carli. Site: www.juniordecarli.com.br E-mail: junior@juniordecarli.com.br


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