Palocci e a sua “bela” política econômica (25?08/2005)


Júnior De Carli

Doutor Palocci foi à TV, e disse: “Meu ex-assessor errou. Deve ser punido... Mas a economia está ótima. O nº. de carteiras assinadas aumentou. O superávit externo jamais foi tão grande. A inflação está controlada. O Brasil cresceu, e hoje detém o 12º maior PIB do planeta”. Todos aplaudiram, até a oposição... mas eu não!

Ora, ora, senhor ministro. O povo tá feliz? Tem qualidade de vida? A educação, a saúde, a segurança, os salários estão bons? Não, não e não! Isso tudo está péssimo. Pelo PIB per capita, somos o 72º colocado dentre todos os países. E isso o senhor não disse. Somos miseráveis, um verdadeiro fracasso social.

Tais pronunciamentos me fazem lembrar hilária propaganda televisiva, que dizia: “esse presunto não é Sadia”. E não é mesmo. Nosso presunto tá estragado. Mais valeria um PIB menor, muito menor, desde que em contrapartida tivéssemos ótima distribuição de renda. Que ao menos fossemos como o Chile.

De concreto, a fala de Palocci nada somou, mas deixou o gancho desta coluna: Temos que gastar com educação. Gastar muito, muito dinheiro. Esse é o único caminho. Isso, sim, seria planejamento de futuro. Afinal, não é essa a função do governante?

Sinceramente, gostaria de ter ouvido coisas construtivas. Algo mais ou menos assim:
“Investiremos maciçamente na educação fundamental e média. O salário inicial dos professores ficará acima de R$ 5 mil. Quanto à origem dos recursos, virá da corrupção cessante, da economia com viagens ao exterior, da diminuição drástica dos gastos com propagandas. E mais. Mudaremos a estrutura de arrecadação, tributando ricos e isentando pobres. A incidência de impostos não mais será sobre mercadorias de consumo, mas sobre a movimentação financeira, também ‘morderemos’ bancos e milionários”.
Então eu aplaudiria em pé, por horas, dias, até sangrar as mãos.

Por isso digo: Que não sejamos comunistas nem capitalistas, que sejamos humanistas. No entanto, quando nosso ímpeto animalesco tentar contra nossa consciência, que levemos nossos filhos às favelas e invasões para ver crianças com o nariz escorrendo, descalços e buchudinhos.

Mas em não conseguindo controlar o inevitável egoísmo humano, que sejamos inteligentes para entender a importância do desenvolvimento social em benefício de cada indivíduo... que sejamos egoistamente inteligentes.

Democracia capenga

Nasceu com a democracia a esperança de que todo poder emane do povo, e em nome dele seja exercido. Mas ainda falta muito, caro leitor. Em nosso país não existem políticas públicas que persistam por mais que quatro ou oito anos, principalmente na área de educação - dentre todas, a mais importante. Sofre o povo. Sofre essa grande massa que finda por mendigar seus votos em troca de um “rancho”, uma dentadura ou 15 míseros reais... E sofrerão as novas gerações.

Políticos pensam primeiro nas eleições, depois na Tribuna, depois na hipocrisia e, de volta, na eleição. Mas e o povo? O povo que se dane. Todos sabem a realidade da população, mas pouquíssimo fazem por isso, além de propagandas e demais gastos descontrolados
Em verdade, nossa democracia ainda não está madura. Quem diz em contrário falta com a verdade. A maioria de nossos governantes é tecnicamente despreparada, de norte a sul, com escala no centro-oeste.

Lula, por exemplo, que se fez conhecido no industrializado ABC paulista, teria condições para presidir a Ford ou a GM? Claro que não. Mas, mesmo assim, preside o Brasil! Isso é um contra-senso. Deveríamos pensar sob perspectivas mais pragmáticas. A propósito, Palocci é médico, não economista. Creio, e nem me pergunte por que, que seja ele proctologista!

Todo esse ambiente nos leva à desesperança, ainda que a cada eleição despertemos novos estágios de “fé”. Surge assim a adolescente que se prostitui, mentindo a si mesma que será por pouco tempo; o rapaz que rouba, crendo que isso não será preciso novamente; o desempregado que se embriaga, certo de que amanhã encontrará trabalho... e a mãe pobre que, abraçada a seu filho faminto, ao cair da noite, pede a Deus que leve algo para comerem.

Buaaá... vejam, nasceu mais um eleitor. E a miséria está aumentando!

Por tudo, senhores políticos, onde estão as políticas sociais?

Enquanto ouvirmos sofismas nos pronunciamentos públicos, nem digo sobre corrupção, ou sobre obras eleitoreiras, digo sobre o que não se faz em favor do povo, estaremos condenados às tragédias social e cultural. Ora, o fim maior do administrador público é, em última instância, prover qualidade de vida ao cidadão. Então cadê?

Política Social não pode se resumir ao assistencialismo eleitoreiro, nem a Bolsa-Escola ou Vale-Gás. O povo vive sem dignidade, recebe péssima educação e os hospitais funcionam precariamente. A essência de um verdadeiro trabalho social deve buscar projetos para garantir a felicidade sistêmica de pessoas e sociedades, causando ciclos contínuos de desenvolvimento.

Digo que estamos sem governo, sem um governo social. E ouvir tanto blá, blá, blá embrulha o estômago. Enjoa ver esse salário mínimo, aprovado pelos “comunas” de outrora. Enjoa a corrupção nas barbas do Presidente. Enjoa os ‘apartes’ das Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas e Câmara Federal, disfarçando a política de “cada um por si e Deus por todos”. Coitado, na hora do aperto, logo põem Deus no meio, tem Ele que ser por todos. Mas esquecem de que quando tentou Sua empreitada política, tacaram-no numa cruz...

Esta coluna é publicada às quintas-feiras e é elaborada sob a coordenação do administrador de empresas com MBA pela FGV, Júnior De’ Carli. Site: www.juniordecarli.com.br E-mail: junior@juniordecarli.com.br


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